Dentro do escritório Vanessa remexe em papéis. Decidiu que
iria “faxinar” o local, como forma de aproveitar o tempo de um final de tarde e
de iniciar novo dia com vários dossiês reagrupados e guardados em novos
lugares. Olha no relógio. Nota que um bom tempo passou desde que começou a
arrumação. Sente-se cansada. Mas quer mais alterações para seu escritório.
Pensa em ir embora. Porém, o telefone toca.
Rapidamente, Vanessa toma o telefone nas mãos. “Alô, pois
não, sim, é Vanessa”, responde rapidamente. Do outro lado, a voz de uma mulher.
Inquisitiva, a pessoa questiona a detetive sobre seu trabalho e diz precisar de
ajuda. Quer encontrar uma pessoa. Vanessa logo explica alguns pontos de como
trabalha. Marcam uma entrevista.
Para a hora marcada, no dia seguinte, aparece, pontualmente,
Meire. Uma mulher de 35 anos, de fala mansa e que demonstra certo nervosismo.
Vanessa procurar deixá-la à vontade, descontraída. A mulher sente segurança.
Passa a se abrir. Lentamente vai tecendo sua história. “Tenho um filho de 20
anos. Engravidei de um namorado quando eu tinha 15. A criança nasceu quando eu
estava com 16 anos. Era muito insegura” relata Meire. A detetive a escuta
atenciosamente.
“Agora, quero, muito, encontrar o pai de meu filho. Saber
como ele está”, diz Meire. Ao falar isto, ela abaixa os olhos e uma lágrima
escorre pelo seu rosto. Vanessa nota que a mulher muito se emociona ao fazer o
relato. “Quer continuar ou prefere parar?”, questiona a detetive. Meire acena
com a cabeça positivamente para continuar. Respira fundo. Olha para os lados e
retoma a história.
Ela conta para Vanessa que logo após o nascimento do filho,
seus pais foram conversar com o rapaz, seu namorado, que se afastara dela.
“Sinto este abandono até hoje. Meu filho também sente. Uma vida sem pai não é o
melhor para ele”, afirma. Meire diz para a detetive que o namorado não quis
assumir a criança. “Ele se calou para os meus pais. Nunca mais me procurou. Meu
coração é apertado por causa disto”, balbucia, com mais lágrimas no rosto.
Vanessa questiona se a mulher imagina de por onde esteja o
ex-namorado. Ela diz ignorar. A detetive pede nome do homem, alguma foto, lugar
antigo de moradia. Pois é para iniciar a apuração do pedido da nova cliente:
localizar o ex-namorado, pai do filho dela. Vanessa pede um tempo. A partir
daí, passa a levantar dados, cruzar informações sobre a pessoa. Chega a uma
descoberta inicial: o homem está a morar fora do Brasil.
A detetive monta um dossiê e marca reunião com Meire. Muito
nervosa, imersa em uma expectativa grande, a cliente vai ao encontro de
Vanessa, que expõe o que descobriu. Pede uma foto do ex-namorado para Meire, da
época em que o romance aconteceu. Compara com imagens recentes e, efetivamente,
a pessoa encontrada era o homem que Meire procurava. A detetive entrega o
dossiê montado para a cliente, que vai embora.
Passa-se um tempo. Cerca de quatro meses depois desta
reunião, Meire reaparece no escritório de Vanessa. Aparentando tranquilidade e
um sorriso, ela relata a Vanessa que conseguiu contato com o ex-namorado. Ele
ainda mora fora do Brasil. Está sozinho, assim como ela. “Ele adorou ver o
filho. Achou muito parecido com ele. Encantou-se com o garoto”. Meire conta que
o homem, admirado com o rapaz e tocado no coração, chamou o filho para morar
com ele, assim com Meire.
“A gente se vê com frequência pelo Skype. Conversamos muito
neste tempo. Procuramos tirar um pouco o atraso desta separação. Ele está só.
Eu também. Então veio o convite para formarmos uma família agora. É um final
feliz para nossa história. Vamos viver em outro país”. O filho foi para a nova
vida e Meire terminava os últimos compromissos do trabalho para também partir
para os braços do amor de adolescência, que se transformou no se sua vida.
Com algumas lágrimas no rosto, agora de alegria, Meire diz
para Vanessa que ela e o pai de seu filho decidem reatar efetivamente o
relacionamento. Afirma para a detetive que pretende encerrar algumas atividades
no Brasil e depois viajar para encontrar e morar com o amor de sua vida, de
quem havia ficado longe por 20 anos. Meire olha fixamente para Vanessa e a
agradece pelo empenho no trabalho realizado. Diz-se muito emocionada por
conseguir ter um recomeço para sua vida, isto graças a Vanessa.
Meire agradece de novo e vai embora. A detetive também se
emociona. Afinal, somos todos humanos e quem não fica contente em ajudar uma
pessoa, ainda mais para a formação de uma família? Trancada em seu escritório, Vanessa
se lembra de casos em que atuou e que tinham como enredo a traição e o fim de
uma família. Desta vez, foi o inverso. Foi a construção de uma família. O mundo
gira. E capítulos da vida podem ser retomados. Basta querer.
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